O Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) adotou sistema que utiliza inteligência artificial para trazer mais rapidez e segurança nos processos da farmácia clínica. Utilizada de forma gratuita, a ferramenta NoHarm auxilia na avaliação dos pacientes internados e otimiza o trabalho dos farmacêuticos, permitindo que os profissionais se dediquem, também, a ações voltadas à eficiência do atendimento. A adoção do sistema se alinha aos objetivos estratégicos do Hospital, no que tange a impulsionar a saúde digital e promover tratamentos de ainda mais qualidade.
A equipe de farmácia clínica do HCB é responsável pela avaliação de todas as prescrições de medicamentos feitas às crianças internadas. “Eles avaliam dose, peso, a indicação, se a via é a mais adequada, se não tem nenhum problema renal ou hepático, se a dose está dentro do permitido, do calculado para aquela idade, e também o tempo de tratamento”, conta o gerente de Suprimentos e Logística do HCB, Leandro Machado. No processo manual, os farmacêuticos precisam avaliar os pacientes com base na evolução registrada por cada profissional da equipe (médico, fisioterapeuta, psiquiatra, …) – o que leva bastante tempo, visto que o Hospital conta com mais de 200 leitos.
A adoção do NoHarm facilitou esse trabalho. Integrado a outros programas utilizados pelo HCB, ele acessa o prontuário dos pacientes e reúne as informações registradas pela equipe multiprofissional. “Esse sistema faz um screening de leitura de todas as evoluções e, com a inteligência artificial, faz uma avaliação em massa. Ele busca palavras-chave, como neurotoxicidade, alergia, insuficiência renal aguda e traz de uma maneira muito mais rápida; consegue ler e falar: tem uma coisa que você citou que era importante e que está acontecendo”, relata Machado.
O HCB é o primeiro hospital de Brasília e o terceiro do Centro-Oeste a adotar o NoHarm de forma completa. Criado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o programa é disponibilizado gratuitamente a instituições do Sistema Único de Saúde (SUS). O processo de implantação começou em janeiro e incluiu tanto avaliações do setor de Tecnologia da Informação, para verificar questões de segurança, quanto treinamento dos farmacêuticos. Já com 100% de validação, ele também é importante por atualizar constantemente o score das crianças internadas.
“O score é a ferramenta que utilizamos para classificar o risco do paciente; dependendo do risco, temos uma conduta diferente em relação ao acompanhamento clínico. O NoHarm tem o score dentro do próprio programa, faz tudo automático e já fala se o paciente é de alto, médio ou baixo risco”, explica a supervisora de Farmácia do HCB, Kalina Ribeiro (foto abaixo, à direita).
O risco verificado pelos farmacêuticos é relacionado aos medicamentos prescritos, de forma que a equipe precisa de acesso rápido ao score para intervir quando necessário. Com atualização automática e frequente, o NoHarm também coleta dados como a temperatura das crianças, exames e alertas de incompatibilidade medicamentosa, e leva essas informações em consideração para definir o score de cada uma. A farmacêutica do HCB Tamyris Borges (foto acima, à esquerda) destaca a importância dessa atualização constante: “Um paciente que está no baixo risco pode mudar o quadro clínico e se tornar um alto risco. Quando fazemos isso manualmente, levamos tempo e podemos perder essa avaliação em tempo real; o NoHarm faz isso e avalia mais parâmetros, por causa do know how que abrange no sentido da inteligência artificial”.
Além de auxiliar os farmacêuticos a agir em prol da segurança das crianças atendidas, a adoção do programa com inteligência artificial permite que os profissionais se dediquem mais a seu papel de buscar a eficiência no uso dos medicamentos. “Ele viabilizou uma celeridade na avaliação, abrangendo maior número de pacientes. Tenho mais tempo de interação na ponta, olhar a bomba de infusão, olhar o paciente, ter o contato com a enfermagem, com os médicos. Às vezes, podemos ficar muito tempo nessa parte do computador e nos afastar o assistencial; o sistema facilita muito com esse tempo que ganhamos”, explica Borges.
Leandro Machado concorda e afirma que outras responsabilidades dos farmacêuticos podem ser fortalecidas. “A equipe já têm um número grande de atividades, mas 60% do tempo deles estava dedicado a avaliar prescrições. A inteligência artificial facilita para acompanhar a periodicidade de avaliação, o histórico de antimicrobianos; tudo que, antes, era visto na mão, fazendo tabelas em que era fácil se perder”, diz o gerente de Suprimentos e Logística. Com a agilidade e segurança promovidas pelo NoHarm, os farmacêuticos têm mais tempo para atuar desde a internação das crianças até a alta, garantindo o atendimento eficaz e seguro para cada paciente.
Texto e fotos: Maria Clara Oliveira